terça-feira, 16 de junho de 2009

Caminho Celta. Ou será Celtibero?





Este caminho Celta ou Celtibero(?), que podem apreciar, milenar, é o que leva o caminheiro desde a estrada no ponto em frente á Branda da Bouça dos Homens, pelo interior da serra, até á Meadinha da Peneda e, daí até ao Santuário de Nª Sª da Peneda.
Muito pouco frequentado, este trilho, além de usado por caminheiros, escaladores, aventureiros, escuteiros e pelas pogoreiras ou pogoreiros, eu também o percorri embora não esteja associado a nenhum daqueles grupos mas sim já aos grupos dos "reumáticos", "dos ciáticos", "dos artrósicos", "dos caquécticos", enfim, dos menos jovens, mas, fomos e voltamos, eu e minha mulher.
O percurso até ao lago é para uma hora e meia para cada lado, três horas ir e voltar, para o jovens, mas, de duas horas para cada lado, quatro horas no total para os "velhos jovens", porque os mais idosos esses já lá não vão. E se alguém com mais de setenta ou oitenta ainda lá vai então é porque é um jovem ainda.
Para esta caminhada para ir ver o lago, ou o pântano como vulgarmente lhe chamam, ou o lago grande, ou lago da meadinha, contei com o apoio amigo de um jovem casal, de Lisboa, que em férias e sem nos conhecer se ofereceu para nos acompanhar e nos guiar pela serra já que, conhecedores já eram daquele "trilho" por experiência de caminhada anterior. Pessoas simpáticas, atenciosas, dedicados amigos, a mostrarem e confirmarem que ainda existem seres capazes de serem amigos sem interesses. Muito obrigado porque foram espectaculares, com o cuidado que tiveram comigo e com minha mulher, em não nos deixarem ficar para trás, em marcarem o caminho com montinhos de pedras para o regresso e para caso nos perdêssemos e, em se disporem um a abrir a fila indiana, á frente e outro a fecha-la, a trás.
Caminho difícil, de subidas e descidas íngremes, de piso incerto em grandes Lajes de pedra, ou em grandes penedos, ou em pedra solta, mas também em calçada medieval com grandes pedregulhos assentes irregularmente que obrigam o caminheiro a ter um cuidado extremo porque ao mínimo deslize alguém pode precipitar-se por encosta abaixo por aquelas vertentes de serra abrupta de alturas vertiginosas, ou, no mínimo dar uma valente "batedela" com o nadegueiro no chão medieval mas que nem por isso deixa de ser perigoso. Não se "amoleceu" com o tempo, como as pessoas. Algumas.
Aqui, partir ou torcer um pé e cair é fácil e de muito mau gôsto porque o local é distante e sem outros acessos para o socôrro.
Pelo caminho da outra banda, que não percorremos e que leva do lago ao santuário, que é ainda mais íngreme e ainda mais perigoso já aconteceu a um casal caír e ficar retido num buraco durante a noite até de manhã do dia seguinte para ser socorrido.
A meio percurso encontramos uma pogoreira: Pastora comunitária destacada ás sortes na sua aldeia, que guarda principalmente as vacas mas outros gados também, pela serra, durante o dia ou dias seguidos. Gado este geralmente de grande porte, de raça Barrosã e em grandes manadas que são pertença de todos os aldeões de uma determinada aldeia. No caso, da aldeia da Gavieira, na Peneda.
A pogoreira traja toda de preto e de lenço na cabeça preto também. Usa calçado subido acima dos tornozelos ou meio cano, bota, e meia veste grossa, preta, subida até acima do joelho.
Protege as pernas desta maneira derivado ás pequenas serpentes que poderá pisar inadvertidamente e logo lhe cravarem o ferrão venenoso que a poderá colocar de imediato em perigo de vida.
No Inverno usa uma capa grossíssima em pura lã, lã grosseira do seu tear, antigamente, com carapuço que fechado junto ao pescoço lhe deixa somente a cara a destapado. As pernas isola-as com uma protecção em lã virgem atada com presilhas de couro.
Ela conhece toda a serra de olhos fechados. Ela percorre toda a serra; Encostas, vertentes e planaltos, caminhos tortuosos, trilhos e terreno amplo sem qualquer trajecto aberto ou marcado, sem sinalizações. Conhece os sítios onde o gado terá pasto ou onde terá água e dirige-o de lado para lado. Percorre distâncias enormes num só dia de dezenas de quilómetros, sempre dentro da serra, para vigiar os vários grupos de animais espalhados por vários locais e move-se com facilidade, com ligeireza, com rapidez.
A pogoreira é a senhora daquelas serras. Ela é a senhora da Serra da Peneda.
Ela percorria o caminho Celta, milenar mas sempre "indomesticável".
Majosilveiro

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